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A balada e o salto agulha. - Ranzinza


Fui a uma balada sertaneja. Desde que comecei a sair de noite para baladas, festas ou qualquer coisa que me obrigue a ficar na rua até o metro abrir e eu conseguir voltar pra casa, fui extremamente seletiva em algumas coisas. Por exemplo: gosto de ir a baladas gays, mesmo que seja a única pessoa hétero naquele lugar. A música é maravilhosa e sei que as pessoas tendem a ser também.

Não vou a lugar de pessoas que só buscam status. Marcas não me compram e não me seduzem, preciso de mais que só um corpo bombadinho ou cabelo impecável, entende?

Mas das piores baladas que já fui a minha vida, uma delas foi uma balada sertaneja (Não se engane, eu gosto de Sertanejo [permitido julgamentos nos comentários, desde que feitos com moderação]).

A que eu fui era errada justamente por se encaixar no quesito status. Os homens eram perfumados, todos de perfume importado, cabelo bem penteado, sapatos novos, calças coladas, blusas coladas. Havia um que tinha a camisa toda estampada com o logo de uma marca cara.

As mulheres eram com cabelos bem penteados, uma ou outra de cachos maravilhoso. Vestido curto, colado, salto alto. Rosto maquiado, batom vermelho e uma fotozinha (entrei na onda da foto também) no espelho do banheiro, dando o chech-in básico.

Havia maquiadora no banheiro até às duas da manhã e aonde você ia, um faxineiro ia atrás. A moça da chapelaria estava de mal com a vida, os seguranças (passamos por uns quatro) eram simpáticos e brincalhões. Viram nossos RGs umas dezoito vezes. O pessoal do bar era bem animado, solicito e educado assim como os seguranças homens.

Mas as pessoas que frequentavam eram tão entediantes, que eu senti saudades do meu trabalho. Os caras não perguntavam o nome, apenas chegavam com as mãozinhas esticadas, como se aquele ato dissesse: vi que você está de calça e tênis, parada, entediada, então vou ter piedade e te tirar para dançar.

Aquilo me fez cogitar quando sairia um Uber até a minha balada favorita. Ai me lembrei que tinha evento no dia seguinte e teria que economizar energia e grana.

Mesmo assim, aquele cara que partiu irritado por ter sua piedade negada não foi o ponto alto da noite.

Havia uma garota bêbada se requebrando como se a agulha de seu salto quinze estivesse sobre bolinhas de gude, que toda hora fazia questão de esbarrar em mim, perfurar meu pé protegido em meu tênis favorito para baladas, olhar para mim e continuar a requebrar como se eu estivesse invadindo seu espaço. Pessoas esbarraram em mim diversas vezes e nenhuma delas me pediu desculpas.

Os poucos caras que se aproximaram e puxaram algum assunto vieram com papinho patéticos, sem aquele toque de simpatia que pessoas educadas usam ao te chamar para dançar.

Mas tudo bem estou sendo apenas uma chata que ficou entediada em uma balada. Sei que é pedir demais por um pedido de desculpas (salto agulha é chamado assim, pois quando pisam em seu pé parece que ele é perfurado por uma agulha!) ou um simples “Poderia dançar com você?” ao invés de um bracinho esticado ou um “Nossa, por que está sentada há esta hora?”.

Não é meu mundo, este mundo dos status. Percebo que na simplicidade há mais riso, mais pedidos de desculpas, mais conversas amenas, mais carinho e até ousadia. Quando vou a outras baladas já na fila me divirto. Podem não ser tão limpas, podem não ter tanta marca, mas a musica é boa e as pessoas também tendem a ser.

E pelo menos nunca fui pisoteada por um salto agulha.

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