Se eu fosse a Cinderela, ao colocar meus
pés no sapatinho de cristal, teria a certeza de que se quebrariam ao primeiro
passo. Se sobrevivesse a isto, então eles quebrariam ao descer da carruagem, ao
usar a primeira escada do palácio, ao primeiro passo da valsa caso eu
conseguisse ser chamada para uma dança.
Eu invejo esta
confiança e ousadia que a Cinderela tem.
No mundo em que
vivo, ser quem sou não é bem visto pela sociedade. Ter a idade que tenho sem
ter uma faculdade, um carro, sem estar pronta para comprar meu lar. No mundo em que vivo preciso de
bens, conquistas que brilham, mas, acima de tudo, é obrigatório ser inquebravelmente
autoconfiante. Tenho que rir das coisas e pessoas que perdi, tenho que ser firme e forte contra os julgamentos que me fazem, tenho que ser e estar plena.
Mas o que faço com minha natureza chorona
que passa dias e meses - e até anos - chorando pelo leite derramado que azedou
há tanto tempo? O que devo fazer com esta mania de curtir minha dor, me
fortalecer aos poucos, usar (e abusar) do apoio que meus grandes, e verdadeiros, amigos me
dão?
Chego cansada em
casa, removendo minhas roupas, jogando a máscara fora, tomando um banho para
relaxar. Não foi o trabalho que me cansou ou o trajeto longo e demorado até
minha casa, não foi a faculdade ou as dívidas que fiz sem calcular o meu
salário que me cansaram. Foi a máscara.
É a máscara.
Ela que às vezes quebra cedo demais, trinca assim que saio de casa; pesa imensuravelmente.
Ela que às vezes quebra cedo demais, trinca assim que saio de casa; pesa imensuravelmente.
Meus pais querem
contar aos vizinhos as minhas proezas, meus professores me dizem que o mundo
está bem mais fácil e que o tempo está acabando, meus colegas dizem que sou
boba, minha cama diz para esquecer tudo e descansar um pouco. E o mundo me cobra. Me cobra. Me cobra. Me julga.
Este mundo que
vivo, a Cinderela tiraria de letra. Vestiria seu sapatinho e conquistaria tudo,
enquanto eu só sei ser a gata borralheira que chora incontrolavelmente por não
poder seguir seus sonhos.
Talvez eu ainda esteja precisando da minha
fada madrinha dizer qual o caminho que realmente devo seguir, porque neste
mundo que me obriga a ser forte demais, eu ainda não sei viver. Não sei rir de
quem me deixou, das falhas que carrego e muito menos me livrar da insegurança
que mora em mim. Não sei ser forte como manda as regras, mas, pelo menos, também não aprendi a desistir.
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