Eu
já tive um grande amigo ao qual me apaixonei. Aquele amigo que
nossos corpos sabiam conversar em silêncio, elogiar e contar piadas
que ninguém mais compreenderia. Acredito que naquela época nossa
sintonia era intensa ao ponto de ser frágil, ser possessiva,
ciumenta, mas cuidadosa e atenta também. Um sabia quando era hora de
arrancar o outro do mundo e deixar que desacelerasse. Um sabia cuidar
do outro.
Mas
tudo isto acabou.
É
interessante pensar que foi graças a este relacionamento que eu
aprendi o quão grande é o nosso medo em relação a honestidade.
Temos medo de que se falarmos que ainda zelamos por aquele que
quebrou o nosso coração, as pessoas nos chamem de trouxa.
O
que as pessoas não parecem lembrar é que o passado ainda está ali,
ainda está em marcas e memórias que guardo dentro de mim.
Como
posso deixar de gostar de alguém que um dia me fez rir, que me
abraçava tão confortavelmente, que me fazia sentir a pessoa mais
importante do mundo, que era um amigo mais do que especial? Eu sei
que xinguei, que esperneei, que quis o mal para aquela pessoa, mas
também sei que hoje, com o coração reparado, se me encontrasse com
aquele velho amigo eu ainda sentiria uma sintonia fora do comum, eu
ainda captaria algumas piadas no ar e sei que mesmo enferrujada
(aquela amizade que talvez só eu mantenho acesa) ainda teriam
pessoas dizendo que somos grandes amigos.
Foi
com o tempo que eu aprendi que podemos ser amigos de quem nos feriu.
Um namoro terminado não é sinônimo do fim de uma amizade. Vamos
precisar de um tempo para nós consertar, vamos soltar umas ofensas,
vamos ficar arredios, mas uns machucados não matam a amizade.
Sinceramente,
eu não me importo de mais tarde ser chamada de hipócrita ao manter
uma amizade tão boa, mas que por um momento tanto ofendi, que por um
tempo me machucou. É só que prefiro ser um pouco mais honesta comigo, o ser humano precisa ser mais honesto consigo.
Ele
precisa, urgentemente, deixar de temer a honestidade!
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu ponto de vista!