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Nunca me chame para um velório. - A primeira vez que fui em um.



Se você quer passar vergonha, me chame para ir em um velório ou me fale que alguém morreu. O primeiro sinal de que você fez a coisa errada, será o sorriso aberto que vou lhe dar, o segundo é a gargalhada sonora.

Mas acredite: tudo pode piorar.

Não pense que eu sempre ri de defuntos (que eles me perdoem, não é nada pessoal) ou da tristeza alheia, mas desde a primeira vez que fui a um velório, as coisas não saíram como o planejado.

Eu tinha pouco mais de quinze anos, minha mãe não queria me deixar ir com os meus amigos, pois seria a primeira vez que eu veria um defunto e ela tinha medo da minha reação, eu não queria deixar de ir, pois meu amigo tinha perdido a mãe, precisava de todo carinho que pudesse receber.

Depois de jantar, minha mãe colocou uma roupa preta, entrou no carro e juntas fomos para o lugar. Estava cheio, com muita gente conhecida e meus amigos ali, um pouco mais afastados, numa área externa, conversando baixinho. Procurei pelo meu amigo em luto e prestei minhas condolências (o que falar, nestas horas? Até hoje não sei), vi a pessoa que havia partido, estranhei um pouco e fui conversar com o restante das pessoas que eu conhecia.

Aquele que havia me contado a tragédia me abraçou e comentou:

- Achei que você não vinha.

Eu respondi, sorridente como só eu consigo ser em momentos de tensão:

- É porque eu tenho mãe! - Sorri.


Enquanto meu cérebro soava o alerta de que algo estava errado, eu vi os olhos daquele que conversava comigo se arregalando, caçando o menor sinal de que alguém tinha me escutado e seus lábios formulando as palavras:

- Eu não acredito que você disse isto!

Foi a minha vez de arregalar os olhos. A ficha tinha caído.

Eu só queria falar que “a minha mãe tem carro e veio me trazer”, mas percebemos que nem tudo o que se pensa, se diz. Por bem ou por pura falha cerebral.


Depois deste ocorrido, decidi não conversar com ninguém, enquanto estou nos velórios. 

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