Ele agora está lá, jogado naquele canto, deitado em posição fetal implorando para voltar ao único lugar onde estava protegido, sem precisar fazer escolhas. Naquela época, ele só amou a consciência da proteção, os ruídos suaves que vinham quando menos esperava, a sensação de alegria. Hoje, não. Ele já é um tolo, brincando de ser adulto. Um imaturo, brincando de ter certeza. Já precisa fazer escolhas por si só.
Meu pequeno coração tentou me proteger durante tempo demais. Sorriu e riu o quanto pode, mas agora as feridas inflamaram e ele não aguenta mais. Ficar calado o fez mal. A cabeça relaxava, satisfeita com os sentimentos que julgou não ter mais, mas ele ainda carregava. As promessas escutadas se fincaram nele de tal maneira, que sozinho ele não conseguiria arrancar. Precisava de mim, mas eu só pensava em seguir e julgá-lo.
Racionalmente, não percebi seus apelos.
De olhos fechados, sem coragem para vê-lo acabado como está, apenas escutando os gemidos que tanto tenta frear, eu percebo que fui tão culpado quanto quem veio a ferir-me com paixão. Eu julguei meu coração por ter caído naquilo, quando a culpa ainda era minha. Um coração ferido não sara sozinho, não sara em tão pouco tempo. Não tem como se fortalecer sem uma base, sem ser amado por quem o tem.
Minha boca deveria ter dito mais, escondido menos. Meus olhos deveriam ter julgado mais, chorado mais. Eu deveria ter deixado de ser tão tolo, me fazer de tão forte, parar de fingir que superei. Tudo estaria melhor, se eu me permitisse ser fraco, apoiado. Menos adulto, mais incerto. Enquanto vestia minhas máscaras, colocava minhas maquiagens, ele sorria, aguentava. E nunca deixou de ser apenas um singelo coração.
Não posso erguer meus dedos e tocá-lo. Não consigo alcançá-lo. E sei que minha carícia só o macularia ainda mais, pois suas feridas estão expostas por todos os cantos, soltando seu sangue ardente, suas esperanças e pedidos de desculpas. Ele tentou, como tentou, me fazer não sentir.
Mas a culpa nunca foi só dele. Incontáveis vezes, esqueci-me disto.
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