Ele foi, pensou Elisabete, com animação . Estava
ali, conversando com Matias que, depois de comer metade dos lanches
preparados por Rogéria, quase dormia encostado em uma árvore. O
padre não usava a batina, só uma bermuda preta e uma camiseta
verde-musgo que, aos olhos da visitante, ficava perfeita nele.
A mulher molhou os braços que começavam a secar.
Durante o ato, olhava ao redor, tentando encontrar uma forma de serem
vistos. O rio, naquele ponto, era fino e ordenado por um barranco
repleto de raízes grossas e perfeitas para segurarem os sedimentos
da natureza. As árvores impedia que um ser humano leigo chegasse ao
lugar com facilidade e tornava o lugar um ponto perfeito para que
algo ruim acontecesse.
O lugar perfeito para que a visitante desse seu
bote.
- A viagem começou a valer a pena?
Elisabete ergueu os olhos e sorriu para o padre.
Ele sentava ao seu lado, mergulhando as pernas na água e fazendo uma
careta estranha ao sentir a água refrescante. Ainda tinha sol e ele
queimava exatamente aquele ponto. E queimaria até o último
raiozinho.
- A água é fresca, mas meu ar-condicionado me
taria o mesmo prazer.
Ele soltou um riso gostoso. Um riso que fez o
corpo de Elisabete refrescar-se e relaxar de qualquer tensão que
tivesse carregado até ali. Um riso que fazia a viagem valer cada
segundo.
- Acho que está errada. - Ele estralou as costas
soltando um gemido. - Você pode ter o ar-condicionado, mas a água é
fresca, faz bem para a saúde e para a pele, e se você der um
mergulho, sentirá que todos os problemas sumiram de seu mundo.
- Está me convidando para um mergulho? - Ela
alfinetou.
Como resistir a uma resposta como a dele? O homem
– pois naquele momento ele só podia ter deixado de ser um padre
para ter se tornado um homem comum – arrancou a camiseta já
molhada, jogou-a em algum canto seco e puxou a mulher pela mão.
- Por que não?
Quantos motivos ela tinha para explicar o porque
não? Mas estava interessada nele e, definitivamente, não largaria a
oportunidade. A agarraria sem parar para respirar e quando ele
ameaçasse desistir, ela reacenderia o interesse. Não. Ela não
negou. E quando levantou o corpo da água, o homem a sua frente pôde
contemplar o biquíni recatado e ao mesmo tempo sexy que ela usava.
Na terra seca, as roupas dela estavam embrulhadas em uma sacola,
esperando para irem para casa.
- Terá que me ensinar a nadar. - Ela sussurrou.
E mentiu. Céus, como amava mentir!
- Estará segura comigo. - Ele devolveu. - Mas
precisa confiar.
Afundaram muito mais do que ela imaginava. A cada
vez que os pés tocavam em alguma alga ou peixe, Elisabete saltava
com um grito baixo de novo e susto. Não era acostumada com tanta
natureza e a sensação era horripilante. Enquanto isto, seu guia ria
de cada reação que ela tinha. Os olhos verdes brilhando com alegria
e convidando-a para um beijo.
- Ainda te dá pé? - ele perguntou.
- Pouco.
Elisabete sentiu o cansaço escorregando em sua
voz. Saltar e gritar lhe cansou mais do que deveria, mas ter o
coração saltando de excitação por poder provar aquele padre,
aquele homem, lhe roubava energia demais.
- Ótimo.
Foi a única coisa que escutou até sentir a perna
dele se entrelaçar à perna dela. Houve um puxão e o mundo mudou de
posição. A terra sumiu de sua vista e o céu ficou de frente para
seus olhos, como se estivesse caminhando na direção dele.
Ela percebeu no último segundo, que precisava
puxar o máximo de ar que conseguisse.
O rio gritou quando sentiu a água ser perfurada
pelo corpo de Elisabete. A mulher, que fora traída pelo homem santo,
sentia os olhos aderem pela água e os esfregou por puro instinto.
Quis esganar o homem que mantinha-se em pé e,
conforme sentir, a sua frente. Tentou, ainda lá em baixo da água,
acalmar-se e por isto soltou todo o ar que conseguiu juntar. Quando
decidiu voltar para a superfície, teve o lapso de puxar a bermuda do
companheiro para baixo.
Os cabelos colaram-se ao corpo e o riso masculino
perdurou os tímpanos femininos. Respirou fundo, recuperando todo o
fôlego perdido e afastou os fios negros que colaram em seu rosto.
- Idiota. - Sussurrou.
- Você não poderia ter passado por isto sob
ar-condicionado. - Comentou o Pedro, pouco antes de mergulhar no rio.
Elisabete ainda arrumava os cabelos, quando sentiu
a cintura ser agarrada pelas mãos grossas do padre e o corpo ser
carregado metros à frente e ao fundo. Se reergueram juntos. Ele lhe
sorrindo quase sedutoramente e arrumando o curto cabelo espesso.
A mente feminina travou. O corpo estava arrepiado
e pronto para beijar aquele cara. Não sabia o que falar ou agir e a
vontade de se atracar ao corpo masculino não passaria despercebido.
Elisabete estava em seu limite, respirando através dos lábios e com
os olhos vidrados no padre a sua frente.
Se espera que, quando alguém lhe quer, ela lhe
diga. Que se há vontade de beijar, haverá um aviso prévio. Mesmo
que o outro alguém declare te querer, você precisa dar um sinal
antes, perguntar, sondar.
Mas para aquele padre, as coisas não deviam
funcionar da mesma forma. Para aquele padre, o mundo devia seguir
outras regras.
Elisabete gemeu assim que os lábios carnudos
foram provados. Aquele homem tinha uma das bocas mais macias que ela
já tinha provado e o corpo mais quente que já tinha sentido. A
excitação dele não era protegida pela bermuda e ele muito menos
queria disfarçar ela.
Quando se separaram, por um ou dois segundos,
Elisabete viu que estavam afastados de Matias. Aquele mergulho era um
rapto e ela excitou-se ainda mais ao ter ciência de tudo. Sorriu. E
agarrou sua presa.
Beijou-o com vontade, aumentando a intensidade
quando sentiu os dedos dele correndo até a laço de seu biquíni. A
água fresca tornou-se gelada quando o corpo dela se aqueceu pelo
desejo e um gemido escapou quando ele mordeu-lhe o pescoço. Ofegavam
juntos, riam, sorriam. Uma sintonia que não deveria existir.
Então, a cabeça latejou. Uma pontada aguda que a
fez soltar um gemido e quando não havia nenhuma roupa lhe cobrindo o
corpo, suas pernas começaram a doer. Seu pescoço começou a
queimar, como se uma linha em brasa o estivesse cerrando.
Mas o corpo masculino fincou-se ao seu e ela abriu
os olhos. Captou os intensos olhos verdes e sorriu ao sentir a nova
investida. Céus, aquele homem lhe mataria!
.M.
Matias abriu os olhos enquanto o sobrinho saía da água batucando na orelha esquerda, como se
quisesse que algo saísse de lá de dentro. Ele parecia muito
satisfeito.
- Então?
- Perfeita. - Respondeu Pedro.
- Ótimo. - O mais velho se espreguiçou ao ficar de pé. - É uma pena que a correnteza seja tão
forte neste horário, não é?
O sobrinho recolheu as coisas largadas no chão,
assim como seu tio fazia. Era realmente uma pena, que aquilo
acontecia tão poucas vezes, que precisavam manter tamanho cuidado para satisfazer um desejo puramente carnal, que todo o processo era tão lento. As desculpas eram sempre as mesmas, a pessoa sempre era pega pela correnteza, sempre perdia a consciência quando ninguém estava olhando e sumia para onde o rio desaguava.
- Sim, meu tio. É uma pena.
.M.
“Os moradores de Ponta Porosa disseram que uma
nova mula surgiu e que estão prontos para matá-la. Segundo o
pontaporense Paulo, as mulas costumam aparecer a cada um ou dois
anos, mas este ano é a segunda vez que acontece este caso.
Com a cidadezinha banhada pelo medo, é comum
escutar frases como '‘tirar o areio ou o freio é a maneira correta de salvar
a moça, mas é perigoso demais. Quem dirá furar ela com alfinete.'
‘Vamos matar’. É o que mais escutamos ao
andar pela pequena cidade. ‘A morte é simples rápida e só
precisamos de um punhado de tiro’. Pelo que notamos, a cidadezinha
esqueceu que na lenda da mula há um culpado e que todos podem ter
seus pecados perdoados.”
Fim.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu ponto de vista!