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Eu quero que seja eterna.


Eu tinha uns seis ou sete anos, quando a Olimpíada de 2000 aconteceu. Me lembro de não fazer a mínima ideia do motivo por todos os alunos serem colocados em filas, caminharem até o refeitório da escola e então sermos organizados sentadinhos junto com todas as outras turmas.

Havia um punhado de televisores de tubo na escola e todos foram sintonizados em algum canal televisivo. A minha professora preferida estava sentada perto de mim, olhando atentamente para a televisão e eu prontamente a imitei.

Me lembro vagamente de algumas coisas, mas outras são tão vivas que eu acho que aconteceu ontem e não há dezesseis anos (ou mais, dependendo de quando este texto é lido).

Seguindo minhas lembranças, uma garotinha em trajes de banho entrou em uma praia montada. Ela vinha confiante, com a mesma confiança que uma ginasta se apresenta, independe de ter falhado ou não. Os passos daquela menininha eram firmes, elegantes. Então ela para, estira uma toalha ao chão, senta-se sobre o tecido, banha-se de protetor solar e relaxa.

A minha memória visual falha neste momento, mas me lembro não entender o que estava acontecendo. Eu não sabia se era um filme que tinha pego do meio, se era uma peça de teatro ou algum evento que todos esperavam, mas eu desconhecia (como se fosse o rei leão, que todo mundo conhecia e eu nunca tinha visto).

Teve uma hora, me lembro, que a menina começa a correr pelo campo que se estendia. As pernas rápidas, o sorriso no rosto, um sonho de menina que aos poucos já pode voar. O ambiente que se molda aos olhos, que se torna incrível e ela… Simplesmente realiza um sonho de todas as crianças e até adultos (os adultos apenas não revelam que sonham com isto. Parece que tem uma lei que os impede de sonhar, de desejar o “impossível”). Algo em mim mudou naquela hora. Quando a menina alçou voo, segurada por cabos visíveis; quando o campo do estádio deixou de ser pacato e tornou-se colorido, eu virei para a minha professora e perguntei:

- O que estamos vendo?

Ela me olhou carinhosa, emocionada. Eu, que nunca gostei de fazer perguntas aos professores, tinha feito a pergunta mais importante de minha vida.

- A Olimpíada.


Juntas, eu e minha professora olhamos para a televisão. Meu coração estava aquecido (como agora) e eu senti que o mundo era um local incrível, que eu ainda tinha muito o que explorar, muito para conhecer e amar. Acima de tudo, me lembro com perfeição de pensar que eu queria que as olimpíadas fossem eternas, que durassem para sempre.

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