Havia um punhado de televisores de tubo na escola
e todos foram sintonizados em algum canal televisivo. A minha
professora preferida estava sentada perto de mim, olhando atentamente
para a televisão e eu prontamente a imitei.
Me lembro vagamente de algumas coisas, mas outras
são tão vivas que eu acho que aconteceu ontem e não há dezesseis
anos (ou mais, dependendo de quando este texto é lido).
Seguindo minhas lembranças, uma garotinha em
trajes de banho entrou em uma praia montada. Ela vinha confiante, com
a mesma confiança que uma ginasta se apresenta, independe de ter
falhado ou não. Os passos daquela menininha eram firmes, elegantes.
Então ela para, estira uma toalha ao chão, senta-se sobre o tecido,
banha-se de protetor solar e relaxa.
A minha memória visual falha neste momento, mas
me lembro não entender o que estava acontecendo. Eu não sabia se
era um filme que tinha pego do meio, se era uma peça de teatro ou
algum evento que todos esperavam, mas eu desconhecia (como se fosse o
rei leão, que todo mundo conhecia e eu nunca tinha visto).
Teve uma hora, me lembro, que a menina começa a
correr pelo campo que se estendia. As pernas rápidas, o sorriso no
rosto, um sonho de menina que aos poucos já pode voar. O ambiente
que se molda aos olhos, que se torna incrível e ela… Simplesmente
realiza um sonho de todas as crianças e até adultos (os adultos
apenas não revelam que sonham com isto. Parece que tem uma lei que
os impede de sonhar, de desejar o “impossível”). Algo em mim
mudou naquela hora. Quando a menina alçou voo, segurada por cabos
visíveis; quando o campo do estádio deixou de ser pacato e
tornou-se colorido, eu virei para a minha professora e perguntei:
- O que estamos vendo?
Ela me olhou carinhosa, emocionada. Eu, que nunca
gostei de fazer perguntas aos professores, tinha feito a pergunta
mais importante de minha vida.
- A Olimpíada.
Juntas, eu e minha professora olhamos para a
televisão. Meu coração estava aquecido (como agora) e eu senti que
o mundo era um local incrível, que eu ainda tinha muito o que
explorar, muito para conhecer e amar. Acima de tudo, me lembro com
perfeição de pensar que eu queria que as olimpíadas fossem
eternas, que durassem para sempre.
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