Havia uma jovem nuvem que não se movia. Não
importava o quão forte estivesse o vento, o quão sozinha ela
ficaria, a nuvem permanecia parada no mesmo lugar.
Havia um jovem garoto na cidade que era
detalhista. Seus olhos percebiam coisas ínfimas, coisas banais,
coisas belas. Seus olhos foram os únicos a perceber que havia uma
nuvem parada no mesmo local, fosse dia ou noite, inverno ou verão.
A jovem nuvem nunca chovia. Ela não se
envergonhava, nem chorava. Só ficava lá, parada.
O jovem garoto sempre reservava um momento para parar. Estagnar onde pudesse ver a nuvem sempre branca e fofa.
Um dia, uma velha nuvem parou ao lado da jovem.
Sabiamente olhou para a cidade, buscou a paixão que estagnava a mais
nova. Deu um tempo para digerir as informações e ousou:
- O que te prendes neste teu passado, jovem?
- Não moro no passado, pois nunca saí daqui.
Estou, apenas, feliz de estar em casa.
A velha nuvem afofou-se um pouco para o lado. O
vento estava lhe pedindo para seguir.
- Uma nuvem não tem casa. Somos do mundo.
A jovem nuvem, como todos os jovens, não gostou
do que escutou. Não poderia, pensava ela, ser diferente dos outros?
Ficar por ali era algo que afetava apenas a ela, não era? Então
qual o problema dela escolher ficar?
Velha como era, a outra nuvem conhecia todos os caminhos de pensamentos que a jovenzinha poderia ter.
- Veja, minha jovem. Há um lugar no mundo que precisa de você. Todos os dias, todas as horas um lugar novo clama por você e o vento nos leva para lá. Estamos a mercê dele para o bem. Quando ficas estagnada aqui, não deixa o sol brilhar em um ponto, mas também não deixa que chova. Quando você para, faz morada, caminhos se fecham.
Lá na cidade, o garoto olhou para o alto e
colocou-se a pensar. A nuvem estagnada estava escurecendo, não pela
noite que chegaria, mas carregada com água. A nuvem choveria.
Um senhor de idade bem avançada parou ao seu
lado.
- O que tanto olha para cima?
O jovem garoto ergueu o indicador e apontou para
onde seus olhos olhavam. Independente de ser falta de educação, ele
seguiu o caminho dos olhos e guiou os olhos mais velhos.
- Vê aquela nuvem parada? Aquela que está
escura?
- É só uma nuvem de chuva, meu jovem. Nem formato tem.
- Ela está ali, naquele mesmo ponto, há anos. Nunca mudou, até hoje. Hoje ela está escurecendo e hoje há uma outra nuvem ao seu lado.
- Não é possível, criança. Tudo muda. O tempo nos obriga. Se uma nuvem para, ela não deixa o sol brilhar para todos e não deixa a chuva nos banhar. É por isto que ela está mudando. Está seguindo seu caminho.
- Mas se ela sair, o que terei para olhar?
- Se um amigo parte, ainda nos resta muitos já
feitos e à se fazer. Amigo é algo que escolhemos ser e ter. Se ela
partir, um dia volta. Enquanto isto, olhe todo o mundo que tens
perdido. Há mais de uma beleza para cada gosto.
A jovem nuvem, chovendo, partiu. Ciente de que um dia, anos mais tarde, poderia voltar.
O jovem garoto, pensativo, dela se despediu.
Nada permanece igual para sempre,ainda bem :D
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