Olhe para todos aqueles trens lá em baixo. Há algum que está fora dos trilhos? Há algum que parece estar no sentido contrário aos outros? Bom, eu não acho nenhum ponto fora da curva. Todos seguem, exatamente, o que foram programados para fazer.
Olhe bem para aquele ali, o mais distante dos outros. Ele está enferrujado, mas ainda serve de abrigo para muita coisa. Aquele outro ali, está vendo? Os faróis parecem olhos e aquele traço um sorriso. Mas é somente sua cabeça sendo infantil e lhe forçando a animar o que é inanimado.
Ali, sobre os trilhos, eles estão apenas aguardando ordens. Sendo o que mandaram ser.
É um pouco engraçado o que vou te dizer, mas creio que é real. Alguns trens, poucos, raros, possuem rodas. Acredita nisto? Eles andam fora dos trilhos, quando precisa que isto aconteça.
Este tipo de trem, este que foge dos padrões, me lembra as mães. Não todas, óbvio, mas aquelas que se desdobram de amor pelos filhos. Aquelas que se preocupam com a felicidade e com os direitos que os filhos possuem, independente de como a sociedade o verá. Independente de quão diferente seja a cria.
Mas, agora, vamos falar de você. De suas diferenças e de tudo aquilo que a sociedade anda jogando em você. Da exclusão, das piadinhas, dos elogios, da elevação de seu orgulhos, que todos os outros lhe fazem.
Vamos ver…
Ah, sim. Aquele vagão ali. Jogado mais ao longe. Imagine que ele é um vagão que, não só está distante, mas que anda no sentido contrário ao de todos os outros. Ele está bem no meio, não é? E vem em alta velocidade, não é?
Cabum!
Ele bateu contra um vagão que ia em direção a ele.
Achando que estavam certos, ninguém reduziu a velocidade e muitos se machucaram.
Foi maravilhoso. As pessoas corriam de um lado para o outro, alguns berravam para saber quem estava errado e outros, raros, lutavam para ajudar os feridos e contar os mortos. Tinha choro, também, e um pouco de riso.
E, basicamente, a vida só precisava ser um pouco mais calma, menos apressada. Atenta, também. Se um deles, apenas um deles, se colocasse no lugar do outro, poderia ter apertado a alavanca que separariam os trilhos. E ai, somente aí, o covarde, o errado, teria salvado todos.
Você é aquele vagão. Vai causar muita guerra, muito impacto e muitos erros. Muitos, incontáveis, erros. Mas tente, ao menos tente, uma vez, salvar primeiro e guerrear depois. Guerrear, claro, se for necessário (nunca é, acredite, necessário).
Ah, vê aquele vagão ali? Ele é bem antigo e nem mesmo é um vagão. Quando carregam pessoas, são carros. Antes, ele era usado como um carro de viagens. Levava pessoas para outras cidades e estados. Andava e andava, recheado de histórias. Agora, a beleza dele é coberta pelo tempo e só os sábios conseguem enxergar. Tem que ter um pouco de pureza também. Mas veja, quanto passado há para escutar naquele carro adornado de lembranças. Ah, eu consigo escutar daqui…
As luzes piscando falhosas.
O cheiro do café forte.
A educação de alguns funcionários e passageiros.
Ah… A vida não segue os trilhos, mas deixa muito ensinamento por eles.
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