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Ela quer ficar com você.




Quando ela se aproximou, carregava um olhar tímido, rosto corado, um pouco de cabelo colado nas bochechas e um pouco desgrenhado. As unhas cumpridas (que ele só perceberia o cumprimento mais tarde) quase toavam o copo suado que continha uma bebida qualquer.
- Oi – ela disse. - Minha amiga, aquela de cabelo liso que não para de olhar para cá, ela quer ficar com você.

Quando ergueu os olhos para conhecer a garota citada, percebeu que era, apenas, mais uma.
- É bonita, mas…
Como explicar que não tão bonita quanto ela? Quanto aquela que tinha tido coragem de se aproximar?
- Nossa! - Ela o cortou. - Desculpe, eu não perguntei se você estava livre, não é? Ou se gosta de garotas. - Os olhos dela, adornados por pestanas negras e cheias, arregalaram-se. - Céus, eu nem perguntei o seu nome!
Ele precisou segurar o riso quando ela completou:
- Podemos recomeçar?
Sorrindo, ele concordou:
- Tudo bem, mas eu posso começar?
- Eu sou muito ruim nisto, não sou?
Ela estava sem graça e isto o forçou a rir. Um riso alto que fora abafado pela música alta. Ela fez coral na risada, aproveitando o álcool como desinibidor e as luzes como a maquiagem que ocultaria sua vergonha.
- É a primeira vez que uma garota chega em mim. - Ele explicou. - Não é fácil inverter os papéis, sabia?
- Oh, se sei. - Ela tinha um sorriso encantador. - É a primeira vez que chego em alguém.
- Não conta.
- Por que não?
- Porque é para a sua amiga e não para você. Ela ficou, por um momento, pensativa. O copo se esvaziando enquanto ela pensava e ingeria a bebida.
- Tenho que concordar.
- Obrigado por concordar.
A música trocou. O barman entregou a bebida dele e ela tornou a arriscar:
- Podemos, então, recomeçar
- Vejamos…- Ele rondou o ambiente com os olhos. Estava em uma pausa dramática que o correu por dentro, mas visivelmente a corroeu também. - Deixo você tentar de novo se, e somente se, for para me dizer que você está interessada em mim.
Ela assustou-se.
Ele não era capaz de omitir que:
- Porque eu estou interessadíssimo em você.
Quando ela sorriu, a noite se tornou mágica. Ela tinha o rosto corado, um pouco de cabelo colado nas bochechas e um pouco desgrenhado. As unhas cumpridas (que ele só perceberia o cumprimento mais tarde) quase toavam o copo suado que continha uma bebida qualquer.

- Oi – ela começou.

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